20.11.06

....

Os dedos giram como se estivessem fora da mão, assim como o espaço à minha volta que parece fora do mundo. Há o amor a dizer baixinho que nos ama, e nós a dizermos baixinho ao amor para ficar mais perto de nós. E ele vai descendo do ar, e vai ficando a planar sobre as nossas cabeças, beijando-nos os fios de cabelo levantado, e depois a cabeça, e depois os olhos e a boca. E nós deixamos que o amor nos beije, como se o tempo estivesse parado e o nosso amor fosse intemporal e infinito. Era tão bom que o tempo ficasse imóvel, e o nosso tempo fosse único e especial para sempre…mas nós sabemos que não, amor…a nossa única vontade é estarmos aqui agora. A nossa alegria é não estarmos nunca sozinhos no futuro, porque temos sempre o nosso eu. O nosso eu nunca nos abandona. O nosso eu que é o único que podemos dizer que vai ficar sempre connosco e o amor irá sempre beijar. Eu não sinto amor por mim, mas sinto a vontade de me amar para saber que não estou só. Sinto a necessidade de puxar o amor para baixo, como se fosse algo natural…mas não é. O amor natural é o nosso, e o meu amor fingido por mim é a ilusão de me proteger. Os dedos giram como se estivessem fora da mão, e entrelaçam-se na tua cara, sentem a tua pele, agarram em bocados de ti que se guardam para sempre em mim. Talvez assim eu possa lembrar que um dia fomos amor, e que um dia tivemos o tempo do nosso lado. A única certeza é a incerteza do amor…e por isso continuamos a ouvir os violinos dos amantes, aqueles que tocam afinados e certos num compasso tão triste que nos deixa a nós sozinhos. Sozinhos no meio de notas musicais escuras e lentas, no meio de um amor cada vez mais nosso, e cada vez mais longe por o sabermos pequeno e finito.

4 comentários:

Sara Morgado disse...

O amor perfeito é incerto, todo o amor é incerto, senão não era amor. A incerteza do amor é aquilo que faz os poetas escreverem horas a fio, é o que de bonito e mágico temos.
O amor só é bonito por ser incerto. E essa incerteza faz-nos agarrar ao amor, nós para sempre presos ao amor, porque nunca se sabe o que virá a seguir.
Se fosse certo, tudo perderia a piada e nós simplesmente ficaríamos sentados. Afinal, não haveria nada para lutar. O amor era banal.
E banal é aquilo que chacina o amor.

D. disse...

o amor são os beijos lentos das horas... e para sempre nós seremos amor e amor , não é? entra as cartas e os anos, sempre bem dentro do meu coração... meu amor

Anónimo disse...

Seremos sempre amor que se torna forte a cada ano que passa, a cada carta escrita, a cada olhar colado na iris, a cada abraço dado e não dado, querido e esquecido, a cada beijinho doce na bochecha a cada entrelaçar de dedos que ficarão para sempre assim..sim amor, seremos sempre amor...*

Anónimo disse...

Amor fraterno...esse amor que nos faz sair da nossa cama e ir aconchegar e reconfortar o outro...esse que nos faz mesmo com o sono a pesar nos olhos ficar a falar pela noite dentro,a dar conselhos, a contar histórias...esse amor que traz consigo toda aquela cumplicidade e maluqueira!
Esse amor que apesar de as vezes parecer esquecido, permenece bem guardado e aquecido no fundinho do meu coração para te dar, sem peso nem medida!

Beijos roxos!