9.12.07

Tal como uma folha de palavras arrastadas e partidas, também as nossas mãos se partiram em pedaços que nunca conseguiremos colar. Como se as peças estivessem misturadas em partes indefinidas, como se as peças que supostamente encaixavam não encaixassem mais. Como se as fendas e reentrâncias de uma mão não fossem preenchidas pelas saliências da outra. Existem folhas secas no chão, que as árvores cuspiram, e fazes elevar os pés como se quisesses esmagar todo o mundo ao mesmo tempo. E por momentos pareces conseguir. Fazes rebentar o chão, com o choro das folhas secas que estalam por entre os teus sapatos. E o mundo pensa que o consegues vencer com a tua revolta. Mas não. Tal como eu sinto que as nossas mãos se partiram, tu também te partiste do mundo, deixando um rasto de súplicas e lágrimas. O mundo vive atormentado pelos teus passos de gigante estalando as folhas do chão, mas és tu que realmente vive atormentado pelo mundo e pelos seus passos que te estalam a pele como as folhas que pisas.
Tal como uma folha de palavras arrastadas e partidas, também os nossos pés se arrastam por entre ruas estreitas de cheiros estranhos, cruéis, sujos. Arrastam-se até haver o fim de um novo começo, em que as nossas mãos conseguem unir-se por entre folhas que cheiram a Outono por todas as nervuras existentes. Assim somos.