Hoje acordei com o beijo da manhã a puxar-me dos lençóis. Abri a janela e respirei o ar lá fora. Parece-me bem. O céu está com nuvens, mas não as suficientes para chover. O meu peito faz questão de me dizer que queria que chovesse. Aceito a ideia. Hoje o coração e a mente parecem concordar um pouco mais que o costume. E os olhos fecham-se na esperança de chover e ser a chuva a bater-me à porta. Abro a porta. É só o vento a entrar-me no corpo. Aquele vento frio que me deixa os dedos dos pés gelados. Visto a camisola de lã azul, visto as calças de ganga gastas. Ponho o gorro na cabeça, e deixo-me estar à espera. Só saio se chover, só saio se chover, só quero que chova, só saio se chover. Quero o frio na pele, e o quente no peito. O quente que me faz viver, e o frio que me faz sentir quente no meio do gorro e do cachecol. Sei que é só mais um frio, e só mais uma chuva, mas faz-me bem. Faz-me cruzar os braços e apertar quem está dentro do coração. Faz-me aconchegar a cabeça e reter para sempre aqueles que vivem lá. Faz-me as pernas tremer e procurar as pernas ao lado para me aquecer. Faz-me querer a chuva para dançar na rua, sem nada, sem pensar sequer que tenho frio e que é estranho. Quero abraçar o que está dentro de mim e me faz tão bem.
Só saio se chover, só saio se chover, só quero que chova…