17.11.07

Estamos sós. O caminho parece mais longo e os pés parecem pesar. E todas as partes do meu corpo sabem-no e parecem parar a cada instante preciso que os meus pés se movem. As mãos carregam o ar demasiado gelado da noite. Carregam o ar, no movimento que fazem para abrir os olhos e ver o caminho. Elas carregam a ilusão de ter algo. É só o ar gelado a perturbar o equilíbrio da visão já turva. É só o ar gelado que espalha as palavras murmuradas e gastas pelo meio de pessoas que não existem. Estamos sós. E por entre as pedras da rua, notam-se os calcanhares de mil pessoas passadas. Contam os meus olhos as histórias de todas elas. Estamos sós. Não se ouvem palavras que nos aquecem por dentro, não se sente o quente e os olhos fechados de saber que pertencemos a algo maior. E de que serve tudo isso? No fim acabamos como folhas de papel gasto, amarrotado, escrito e reescrito vezes sem conta. Sente-se o frio de palavras que não são nossas, de olhares que não são próprios, de vidas estranhas. Ouvimos vozes…algumas. E para mim todas as pessoas são loucas por verem os calcanhares em carne e osso pisarem as pedras da rua, como se eles fossem reais. Estamos sós. Nós somos reais, eles não. Estamos de passagem. Não olhamos para trás, mas sabemos que os nossos calcanhares não ficam nas pedras tal como os outros e os pés carregam todo o peso de estarmos sós. Todos sabemos em silêncio que há a vontade de ficar onde dois mais dois é igual a cinco.



*2+2=5 Radiohead