17.6.07


E é a mesma vontade, que me leva a encolher o sono e desfilar palavras em linhas inexistentes. É a mesma vontade. Depois de ver imagens, que os olhos não viram mas visionaram, as horas não continuam as mesmas. Há horas atrás, o tempo parecia perder-se numa magnitude desconhecida. Mas agora, há a vontade. A mesma vontade que me faz desfilar estas palavras sobre linhas inexistentes. Já o disse. Repito.
Repito, tal como as pessoas voltam a repetir coisas que estão fora de mim. Não se questionam, não têm uma consciência capaz. Voltam a fazer os mesmos erros até ao limiar da loucura. Talvez da estupidez. Talvez não, é estupidez. Talvez seja um pouco loucura e estupidez misturados, que movem todos os centros dos corpos, puxando-os como a força gravítica, para baixo. Um baixo tão baixo, que chega a tocar a podridão das coisas apodrecidas e esquecidas pelo tempo. Cobertas por camadas e mais camadas. E essas mesmas camadas feitas de pedra e aço que deviam deixar solitária a podridão, são as mesmas camadas que são penetradas facilmente pelo bicho corrosivo, que somos nós.
Eu tenho a vontade, mas não tenho a força de colocar mais camadas de aço por cima da podridão. E eu canso-me ao ver que outros que têm esta vontade, já o tentaram em vão. Há sempre pessoas que lhes sobem às costas e lhes cortam as pernas.
Eu tenho a vontade, a mesma vontade que não só me faz desfilar as palavras, mas também me faz desfilar pensamentos bonitos, em que todos somos um só, e no ar existem melodias que nos fazem explodir de emoção os nossos dentros e dar as mãos.
Chega a ser uma utopia mal amada e triste, que recolhe em mim com um tom desconcertante de impossibilidade. E as horas escorrem em mim, e em todos nós, porque tal como para mim as horas já passaram mais devagar, para todos nós, elas há muito que já não andam ao nosso passo. A nossa hora está a morrer vitima de incompreensão crónica, vitima de pessoas que teimam em penetrar na podridão, só para mostrarem ao mundo que conseguem transpor barreiras de aço.
É a hora, como já dizia alguém, da vontade transpor a vontade…
São palavras desfiladas com trajes de revolta, por entre lágrimas que me lavam por fora e me expõem por dentro.
São palavras feitas da mesma vontade, a mesma vontade que devia ser universal.

3 comentários:

D. disse...

mais vale cuspir por cima da podridão e fazer piadas, rogar pragas ao podre. sempre ajuda a continuar o caminho quando os pés doem.

Anónimo disse...

A culpa é minha por essa noite insone... Mas é fundamental despertar de vez em quando para a podridão em que os homens(?) mergulham...

Sara Morgado disse...

Nem que seja uma só vez, para uma só pessoa, nem que seja num só dia ou num só minuto, nem que seja um sorriso tímido na face dos outros, nem que seja uns braços abertos por instantes, nem que seja o gesto mais subtil do mundo uma vez praticado para outro que o mereça e que passe ao lado do resto, para te sentires maior que toda essa podridão, para sempre.