7.3.09

Estou além a fazer discursos directos.

1.11.08

É a dor e a solidão a chamarem-me para falar. São quase oito da manhã, mas elas sabem como me chamar. Têm mecanismos próprios que nos levantam os lençóis e deixam o frio entrar. O frio. O frio e o vazio lambem-me a pele e beijam-me os olhos na certeza de que serão os meus amantes esta noite e depois. Eles não me dão amor, mas eu procuro-os com a sede de um copo de água. Eles não me afagam, mas é tudo o que há por agora. Eles são o nosso fruto. Porque é que nos deixamos arrastar por eles? Porque é que não conseguimos simplesmente virar-lhes as costas e seguir por ali? Diz-me tu.

22.10.08

4.10.08


Há dias em que por vezes a saudade aperta. Os momentos ficam presos em nós e não saem tão cedo. Há manhãs que depois de acontecerem, mudam para sempre a vida de alguém. Aquelas manhãs em que obtemos a resolução de uma vida, uma decisão. Eu sei que hoje, isso não vai acontecer sem que algo aconteça primeiro. Esta manhã está longe dessa. Está longe de ser a manhã com que toda a gente acorda a desejar. Aquela que se vê em sonhos e se espera no dia seguinte. Aquela manhã em que os nossos sonhos ainda existem e a realidade não passa de um sonho. Hoje acordei por entre os lençóis amolgados, como carros num acidente, e os olhos ainda viram o que viram em sonhos, ainda o sentem, e a imagem daquele ainda aparece delineada no escuro, como marcas na pele.
Esta manhã não é uma daquelas que muda a vida de uma pessoa. O sol aparece em intervalos curtos, o frio sente-se anunciando a morte do verão. Esta manhã é só uma saudade que aperta o peito. Uma saudade de mim. Uma saudade de tudo.

24.9.08

Como num vídeo a vida brota a cada hora, a cada minuto. Respira e morre a cada segundo. Ninguém sabe o que acontece no meio, nem mesmo no fim. Naquele fim em que esperamos momentaneamente pelo ecrã preto e o fim da música.
Preciso de mais. Não quero que me amem, prefiro que me mintam. Não sou bom de amar, nunca fui. Sou o que sou. Mas quero sentir algo. Quero sentir muito mais do que o simples dia a correr. Quero inventar as horas. Quero inventar sentimentos. Quero sentir a novidade dos dias. Quero lutar contra todos, com a mesma força de um grande homem. Quero reinventar o amor para que ele não morra. Quero dizer que existo. Quero o meu nome escrito no mundo. Quero que todos me saibam. Quero escrever o que ninguém pensa. Quero pintar o que ninguém vê. Quero ser único. Simplesmente magnifico. Quero ser sem o pensar em ser. Quero tanto e tudo mais à volta.

25.7.08

Nada que o tempo possa conhecer, pode trazer de volta as lembranças de quando eu era pequena. Só o tempo que trago comigo é que as pode trazer. Quando era pequena e fazia do mundo a minha bola, que os meus pés pequenos, e os dos outros, chutavam contra o espaço limitado por duas grandes pedras, que era a nossa baliza improvisada. E aí o tempo conhecia-me bem, e eu tratava-o por tu. Nada que o tempo possa conhecer, pode trazer de volta as lembranças de quando eu era pequena. E no entanto traz. E faz-me lembrar de quando eu era pequena e usava calções e nada sabia. E nas pernas trazia os pêlos finos da inocência. Aqueles que ainda não se tiravam por serem demasiado insignificantes. O tempo traz a lembrança daqueles tempos em que os adultos ainda me perdoavam os erros e deixavam escapar abraços quando acordava a chorar durante a noite com os pesadelos dos fantasmas. O tempo traz a lembrança de quando os adultos nos seguravam, e nos apanhavam no ar só com uma mão. Agora, só alguns me conseguem apanhar no ar, usando as duas mãos, e sabe deus como lhes custa. O tempo traz a lembrança dos tempos em que não sabia das tristezas do mundo e o mundo não sabia das minhas. E ficávamos os dois na ignorância, porque ficar na ignorância nestas coisas é sempre melhor. Ficávamos e ponto final. Não interessavam as vidas paralelas dos outros, não interessava o sentido da minha, a estética, o design, o sentido artístico ou a dimensão arquitectónica daquilo que fazia, das palavras que proferia, o que desejava, o que sentia…Aprendi quando era pequena a fazer do mundo o meu recreio, visão que acho muito mais evoluída. Uma visão determinada, astuta, faria quiçá um brilharete no mundo dos adultos.
Nada que o tempo possa conhecer, pode trazer de volta as lembranças de quando eu era pequena. E no entanto traz. Traz de uma forma súbita e quase dolorosa. Ele não me visitava quando era pequena. Só agora com algumas rugas e alguns cabelos brancos aparece. E eu como sempre ofereço-lhe chá de tília com biscoitos de canela, tentando desfiar o fio da conversa e encurtar-lhe as pernas, para que ele não corra atrás de mim. Há que ganhar vantagem e fugir. Porque ele traz as lembranças e talvez algo mais.

1.7.08

Porque renascemos com os abraços

Tu, sim tu aí, dá-me um abraço. Não tenhas medo de te sentir mal com o sentimentalismo puro dos seres. Dá-me um abraço.